Reforma Inglesa

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Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 13 julho 2020
Disponível noutras línguas: Inglês, Árabe, francês, italiano, espanhol
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Tyndale Bible (by Steve Bennett, CC BY-SA)
Bíblia de Tyndale
Steve Bennett (CC BY-SA)

A Reforma Inglesa começou com Henrique VIII da Inglaterra (r. 1509-1547) e continuou progressivamente ao longo do século XVI. O processo resultou na ruptura com a Igreja Católica chefiada pelo Papa, em Roma. A Igreja Protestante da Inglaterra foi assim estabelecida e o monarca inglês tornou-se seu chefe supremo. Outras consequências incluem a dissolução dos monastérios, a abolição da missa, o uso da língua inglesa nos serviços e na Bíblia, a substituição dos altares pelas mesas de comunhão e, de forma geral, num afastamento dos elementos mais decorativos e vistosos do Catolicismo tanto nas cerimônias quanto nas igrejas em si. A maioria do povo acompanhou a mudança: os ricos por causa das riquezas que ganharam com o desmonte da Igreja e a população em geral porque se submeteram às autoridades, que impuseram multas a quem desobedecesse às novas normas e deixasse de comparecer à Igreja Anglicana, como se tornou conhecida. Houve também objeções tanto de católicos quanto dos protestantes mais radicais, tais como os vários grupos puritanos, que criariam suas próprias igrejas e práticas, aderindo mais rigorosamente aos ensinamentos de reformadores tais como João Calvino (1509-1564).

Henrique VIII e a Ruptura

As origens da Reforma Inglesa foram políticas e recuavam até o reino de Henrique VII da Inglaterra (r. 1485-1509). Henrique acertou o casamento de seu filho mais velho, Arthur (n. 1486) com a princesa espanhola Catarina de Aragão (1485-1536), filha do Rei Fernando II de Aragão (r. 1479-1516), uma união que ocorreu em 1501. Era um laço diplomático útil e Catarina veio com um enorme dote. Infelizmente, Arthur morreu no ano seguinte, aos 15 anos. Henrique VII, ansioso em manter relações amigáveis com a Espanha, manobrou para que seu filho mais novo, o Príncipe Henrique (n. 1491), após uma permissão especial concedida pelo Papa, fosse prometido a Catarina. Quando Henrique VII morreu em Abril de 1509, o Príncipe Henrique tornou-se rei. Como previsto, ele se casou com Catarina em 11 de Junho e foi coroado como Henrique VIII na Abadia de Westminster, no dia 24 de Junho de 1509.

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Henrique VIII, um estudante de Teologia, nesta altura não estava interessado em reformar a Igreja, apenas em mantê-la sob controle.

O casal era feliz e o matrimônio produziu seis crianças, das quais somente uma sobreviveu à infância. Esta sobrevivente foi Maria, nascida em 18 de Fevereiro de 1516. Quando ultrapassou os 40 anos, tudo indicava que as chances de Catarina dar à luz um menino saudável seriam muito pequenas. Henrique começou a buscar uma segunda esposa, mais jovem e mais excitante. Ele tinha um filho ilegítimo, Henrique Fitzroy, Duque de Richmond (n. 1519), com uma de suas amantes, Elizabeth Blount, mas isso de pouco adiantava para um rei que que desejava um herdeiro que pudesse ser reconhecido. As atenções do rei voltaram-se para Ana Bolena (c. 1501-1536), uma dama de companhia da corte. Ana insistiu em casar-se com o rei antes que quaisquer pensamentos de criar uma família pudessem ser alimentados. O problema de Henrique, portanto, era como se livrar de Catarina, no que se tornou conhecido como a "grande questão" do rei. Assim, a Reforma começou.

A Solução da "Grande Questão"

O divórcio não era permitido pela Igreja Católica e, portanto, Henrique precisava de uma justificativa para que seu casamento fosse anulado, com o argumento de que teria sido inválido desde o início. Por conseguinte, uma carta foi enviada ao Papa, sugerindo que a falta de um herdeiro masculino seria uma punição divina pelo casamento de Henrique com a esposa de seu falecido irmão, o que teria o apoio do Velho Testamento. A "Proibição do Levítico" estabelece:

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E o que tomar a mulher de seu irmão, é imundícia; a nudez de seu irmão descobriu; sem filhos serão.

(Levítico, cap. 20 v. 21).

Henry VIII Meets Anne Boleyn
Henry VIII encontra Ana Bolena
Daniel Maclise (Public Domain)

Portanto, o rei queria que o Papa anulasse o matrimônio. Infelizmente para Henrique, o Papa Clemente VII (r. 1523-1534) queria manter a todo custo as boas graças com o mais poderoso governante da Europa na época, o Imperador do Sacro Império Romano, Carlos V da Espanha (r. 1519-1556), que, para complicar ainda mais a situação, era sobrinho de Catarina. Para resumir, o Papa não necessitava do apoio político ou financeiro da Inglaterra e qualquer pressão sobre ele seria inútil. Mais ainda, era improvável que Catarina e Arthur, muito jovens à época do casamento, tivessem sequer dormido juntos e, assim, a "Proibição do Levítico" não se aplicaria ao caso. De qualquer forma, havia uma passagem no livro bíblico do Deuteronômio que parecia contradizer o Levítico:

Quando irmãos estiverem juntos, e morrer algum deles, e não tiver filho, a mulher do morto não se casará fora com homem estranho: seu cunhado entrará a ela, e a tomará por sua mulher, e fará com ela parentesco.

(Deuteronômio, cap. 25 v. 5)

O Papa enviou o Cardeal Lorenzo Campeggio para a Inglaterra a fim de investigar a questão e presidir um tribunal especial em Junho de 1529, mas não houve decisão. Percebendo que teria de proceder de forma independente, Henrique, em primeiro lugar, separou Catarina da filha de forma permanente e transferiu a rainha sucessivamente para várias residências dilapidadas através do país. Nesse meio tempo, Henrique e Ana viviam na mesma casa (mas não dormiam juntos). Em algum momento de Dezembro de 1532, Ana, talvez percebendo que um herdeiro seria a melhor maneira de se ver livre de Catarina, dormiu com o rei e engravidou.

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O rei agora precisava desesperadamente da anulação do primeiro matrimônio e a tarefa foi confiada a seu principal ministro, Thomas Wolsey, Arcebispo de York (c. 1473-1530). Wolsey não conseguiu atender ao rei e foi substituído primeiramente por Sir Thomas More (1478-1535) que, de forma célebre, resistiu aos planos reais, e por fim por Thomas Cromwell (c. 1485-1540). Wolsey e Henrique haviam criado um plano radical de separar a Igreja inglesa da Igreja Católica de Roma, estabelecendo o rei como o chefe da Igreja da Inglaterra. Assim, Henrique poderia anular seu próprio matrimônio. O rei, um estudioso de Teologia, não estava neste estágio interessado em reformar a Igreja, mas apenas em controlá-la. Ele permaneceu comprometido com práticas católicas tradicionais, como a missa, confissão e o celibato clerical, como evidenciado no Ato dos Seis Artigos, de 1539. A separação, no entanto, estava se aprofundando. O Ato de Restrição de Anatas, de 1532, limitou os recursos pagos pela Igreja ao Papado. E, por fim, o Ato de Restrição de Apelações, de 1533, declarou que o monarca inglês era a partir daquele momento a maior autoridade em todos os assuntos legais (tanto leigos quanto eclesiásticos), e não o Papa.

Thomas Cranmer
Thomas Cranmer
Gerlach Flicke (Public Domain)

Thomas Cranmer, o Arcebispo de Canterbury (Cantuária) (1533-55) anulou formalmente o primeiro casamento de Henrique em Maio de 1533. A anulação e a aprovação pelo Parlamento do Ato de Sucessão (30 de Abril de 1534) tornou ilegítima a filha de Catarina, Maria. Henrique foi excomungado pelo Papa por suas decisões mas, agora, todo o caso havia tomado um significado muito além dos casamentos reais. O Ato de Supremacia, aprovado em 28 de Novembro de 1524, estabelecia que Henrique, e todos os monarcas ingleses subsequentes, tinham apenas uma autoridade superior: o próprio Deus. O Ato de Traição de 1524, aprovado pelo Parlamento sob pressão do então primeiro-ministro, Thomas Cromwell, proibia as pessoas até mesmo de fazer discursos críticos ao rei e suas políticas.

Thomas Cromwell Começa a Reforma

Cromwell adquiriu, junto com muitos outros cargos, o papel de vigário-geral, ou vice-regente nas questões da Igreja. Após ser confirmado no cargo em Janeiro de 1535, ele fez amplo uso de seus poderes para seguir adiante com a reforma da igreja e aproveitou a oportunidade para interferir na rotina diária da instituição (por exemplo, recrutando padres radicais, imprimindo livros de devoção radicais e criando uma rede de informantes). A seguir, publicou As Injunções, em Agosto de 1536 d.C., uma série de recomendações sobre o que os clérigos deveriam ensinar às suas congregações, tais como melhores explicações sobre os Dez Mandamentos ou os Sete Pecados Capitais. A Reforma Inglesa progrediu em ritmo acelerado com os Dez Artigos de Cromwell (1536) que, inspirados nos escritos de Martinho Lutero (1483-1546), rejeitavam os Sete Sacramentos do Catolicismo, mantendo apenas três (batismo, penitência e a Eucaristia). A nova doutrina recebeu uma declaração adicional com o The Bishop's Book (O Livro dos Bispos), publicado em Julho de 1537.

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Em 1539, um Ato do Parlamento resultou no fechamento de todos os monastérios, independente do tamanho ou rendimento.

A Reforma estava realmente seguindo a todo vapor com a lei de 1536, que previa o fechamento e abolição dos monastérios católicos, no que se tornou conhecido como a Dissolução dos Monastérios. A justificativa oficial foi a de que estas instituições não eram mais relevantes, estavam repletas de monges e freiras corruptos e imorais e não auxiliavam os pobres tanto quanto sua riqueza permitiria. Começando com os monastérios menores, Cromwell garantiu que a operação transcorresse sem problemas ao pagar generosas pensões aos monges seniores, priores e abades. As propriedades dos monastérios menores foram redistribuídas para a Coroa e aos apoiadores de Henrique - o que, provavelmente, era o principal motivo por trás da lei. O processo provou-se irrefreável mesmo que houvesse alguns protestos, como a Peregrinação da Graça, uma rebelião ocorrida em 1536. A insurreição reuniu cerca de 40.000 manifestantes, que conseguiram tomar a cidade de York, e que não estavam preocupados apenas com as mudanças religiosas, mas também com o governo e a economia. A rebelião foi dispersada pacificamente, mas 200 líderes foram julgados de forma implacável mais tarde.

Thomas Cromwell by Hans Holbein the Younger
Thomas Cromwell por Hans Holbein, o Jovem
Hans Holbein the Younger (Public Domain)

Cromwell produziu uma versão ainda mais forte da obra As Injunções, divulgada em 1538. Foi recomendado que as relíquias de santos fossem removidas das igrejas, as peregrinações deveriam ser evitadas e, no que se mostrou inestimável para os historiadores desde então, a manutenção de registros de todos os nascimentos, casamentos e mortes nas paróquias.

Muitos súditos de Henrique mostravam-se ou indiferentes a estas mudanças ou favoráveis a reformas na Igreja, tal como ocorria no movimento da Reforma Protestante que se espalhava pela Europa. A Igreja era vista como rica demais e repleta de padres que cometiam abusos. Outros súditos simplesmente obedeciam aos seus superiores e não se importavam muito com o que era dito ou feito na igreja, desde que houvesse alguma forma de cerimônia para o público. Também havia divisões dentro da hierarquia da igreja a respeito das reformas. Thomas Cranmer liderava a facção mais radical, enquanto o bispo de Winchester, Stephen Gardiner, era o líder dos conservadores católicos.

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Outro movimento em direção à independência foi a aprovação do rei para a tradução da Bíblia para o inglês, em 1539. No mesmo ano, um Ato do Parlamento resultou no fechamento de todos os monastérios remanescentes, independente do tamanho ou rendimento. Os religiosos que resistiram foram executados, como os abades de Glastonbury, Colchester, Reading e Woburn, todos enforcados. O último monastério a fechar foi a Abadia de Waltham, em Março de 1540. Henrique enriqueceu os cofres estatais com a impressionante soma de 1,3 milhão de libras (mais de 500 milhões em valores atuais), como resultado da Dissolução. Este foi o início real da Reforma Inglesa para a população em geral, uma vez que os cerca de 800 monastérios tinham sido parte da vida comunitária por séculos, ajudando os pobres, atendendo aos doentes, empregando pessoas e dando orientação espiritual, entre muitos outros serviços. Contudo, mudanças ainda mais importantes estavam para acontecer.

Eduardo VI e as Reformas Adicionais

Henrique foi sucedido por seu filho com a terceira esposa, Jane Seymour (c. 1509-1537), Eduardo VI da Inglaterra (r. 1547-1553). Eduardo, Thomas Cranmer e os dois regentes, Edward Seymour, Duque de Somerset (c. 1500-1552) e John Dudley, o Conde de Northumberland (1504-1553) continuaram a Reforma com ímpeto, introduzindo mudanças ainda mais radicais do que as estabelecidas anteriormente. Em 1547, Cranmer divulgou seu Book of Homilies (Livro de Homilias), uma coleção de sermões prontos para serem usados nos serviços religiosos. Ele também criou um novo Book of Common Prayer, o livro de rituais e orações publicado em 1549 e tornado compulsório a partir do Ato de Uniformidade, aprovado no mesmo ano. O livro de orações foi atualizado com uma versão ainda mais divergente do catolicismo em 1552, quando a noção católica de transubstanciação foi rejeitada (trata-se da noção de que os elementos da Eucaristia, o pão e o vinho, tornam-se o corpo e o sangue de Jesus Cristo).

Edward VI of England by William Scrots
Eduardo VI da Inglaterra por William Scrots
William Scrots (Public Domain)

Foi nesta época que o termo "Protestantismo" começou a ser utilizado mais amplamente. A iconografia, murais e os vitrais foram removidos das igrejas e os serviços passaram a ser conduzidos em inglês, não mais em latim. Mesas de comunhão substituíram os altares católicos. A adoração de santos era desencorajada. Permitiu-se o casamento dos padres. Suprimiram-se as guildas religiosas, as doações para as missas pelas almas dos mortos foram abolidas e as terras da igreja acabaram confiscadas. Com frequência, toda esta riqueza ia diretamente para os bolsos da nobreza.

Houve protestos, assim como ocorrido quando da Dissolução dos Monastérios. Novamente, a mistura de uma situação econômica precária e o ressentimento pelas mudanças nas paróquias tradicionais levaram à rebelião, desta vez em Cornwall e depois em Norfolk, em 1549. Esta última, conhecida como a Rebelião de Kett, por causa de seu líder, Robert Kett, foi mais séria mas acabou esmagada sem piedade com o massacre dos rebeldes em Dussindale, em Agosto. A Reforma prosseguiu inapelável com mais práticas "papistas" sendo banidas, tais como os elementos mais vistosos das roupas dos clérigos e a abolição das orações pelos mortos.

Maria I e a Reviravolta da Reforma

Em 1553, Eduardo VI morreu de tuberculose, com apenas 15 anos de idade, e foi sucedido por sua meia-irmã, Maria I da Inglaterra (r. 1553-1558). Uma breve tentativa de colocar a prima protestante de Eduardo, Lady Jane Grey (1537-1554) no trono foi um desastre para todos os envolvidos. Maria era uma católica fanática e estava decidida a reverter a Reforma. O Primeiro Ato de Revogação, em Outubro de 1553, reverteu toda a legislação relacionada à igreja promulgada no reinado de Eduardo VI. Dois anos depois, em Janeiro de 1555, o Segundo Ato de Revogação aboliu toda a legislação referente às questões religiosas posteriores a 1529. Esta lei incluía o Ato de Supremacia que tornava o Papa novamente o chefe da Igreja na Inglaterra.

O apelido da rainha, "Bloody Mary' (Maria Sangrenta), decorre dos 287 mártires protestantes mortos na fogueira durante seu reinado, incluindo o próprio Thomas Cranmer, em Março de 1556. A população em geral, assim como antes, deu pouca importância a estas mudanças eclesiásticas, ao contrário dos nobres, que haviam lucrado enormemente com a Reforma e a Dissolução dos Monastérios. Outro motivo de descontentamento foi a proposta de casamento de Maria I com o príncipe católico Felipe da Espanha (1527-1598). Muitos temiam que a Inglaterra pudesse ser absorvida pelo imensamente rico e poderoso Império Espanhol, o que levou à Rebelião de Wyatt, em Kent, no mês de Janeiro de 1554. A Reforma e o sentimento de nacionalismo inglês começavam a se interligar. Os manifestantes queriam interromper o "Casamento Espanhol" mas, secretamente, talvez tivessem o objetivo de substituir Maria pela sua meia-irmã protestante Elizabeth. No final das contas, Maria morreu de câncer e a Reforma foi somente atrasada. A sucessora iria garantir que fosse retomada e, desta vez, levada às últimas consequências.

Pre-Reformation Church Altar
Altar de uma Igreja antes da Reforma
David Hawgood (CC BY-SA)

Elizabeth I e as Novas Reformas

Em 1558, Maria foi sucedida por sua meia-irmã Elizabeth I da Inglaterra (r. 1558-1603). Protestante, a nova rainha estava resolvida a devolver a Igreja da Inglaterra ao seu estado reformado, tal como no reinado de Eduardo VI. Tanto os protestantes quanto os católicos mais radicais ficaram insatisfeitos com a postura pragmática de Elizabeth, que optou por uma abordagem mediana para atender à maioria dos seus indiferentes súditos. Aos extremistas era permitido seguir suas crenças sem interferência, até mesmo quando o Papa excomungou a rainha por heresia em Fevereiro de 1570. Ela também se mostrou ativa no estrangeiro. Tentou impor o protestantismo na Irlanda católica, o que provocou apenas rebeliões frequentes (1569-73, 1579-83 e 1595-8), muitas com apoio material da Espanha. A rainha também enviou dinheiro e armas para os Huguenotes na França e ajuda financeira para os protestantes nos Países Baixos.

Duas ameaças externas para Elizabeth foram Maria, Rainha dos Escoceses (r. 1542-1567) e Felipe II da Espanha. A católica Maria havia deixado a Escócia e tinha uma reivindicação ao trono inglês, uma vez que era neta de Margaret Tudor, irmã de Henrique VIII. Felipe II era o mais poderoso governante católico da Europa e parecia querer expandir o Império Espanhol. Ambos se tornaram símbolos para os católicos na Inglaterra que desejavam derrubar Elizabeth e o protestantismo. Para muitos católicos, Elizabeth era ilegítima, já que não reconheciam o divórcio de seu pai da primeira esposa, Catarina de Aragão. Por esta razão, Maria foi mantida em prisão domiciliar e, quando considerada definitivamente culpada de conspirar contra a rainha, foi executada em 8 de Fevereiro de 1587. Felipe recebeu um duro golpe em suas ambições imperiais com a derrota da Armada Espanhola, que tentou invadir a Inglaterra em 1588.

O Acordo Elizabetano

O próximo passo adiante para a Reforma foi o Acordo Elizabetano, uma coleção de leis e decisões aplicadas entre 1558-63. O Ato de Supremacia (Abril de 1559) colocou a monarca inglesa novamente como chefe da Igreja. A rainha atenuou a linguagem, chamando a si mesma de "Governadora Suprema" da Igreja, ao invés de "Chefe Suprema", com o objetivo de passar uma imagem mais aceitável aos protestantes, a quem desagradava a ideia de uma mulher em tal posição. Ao contrário de outros estados protestantes, a velha estrutura da igreja católica abaixo da soberana foi mantida, com bispos organizados numa hierarquia e nomeados pela monarca.

Elizabeth I Sieve Portrait
Retrato da Peneira de Elizabeth I
Quentin Metsys the Younger (Public Domain)

O Ato de Uniformidade, de Maio de 1559, estabeleceu normas para a aparência das igrejas e dos serviços. O comparecimento à igreja tornou-se compulsório e a ausência gerava uma pequena multa (que era então distribuída aos pobres). Os que se recusavam a comparecer aos serviços anglicanos ficaram conhecidos como não conformistas ou recusantes. Além disso, o comparecimento à missa católica foi proibida e os culpados por esta ofensa recebiam uma multa vultosa. Um padre flagrado ministrando uma missa poderia enfrentar a pena de morte.

As Injunções Reais eram um conjunto de 57 regulamentos em questões da igreja. Por exemplo, os pregadores precisavam de uma licença, cada igreja deveria ter uma Bíblia em inglês e as peregrinações foram banidas. O livro de ritual e orações de Thomas Cranmer foi restaurado (um meio termo entre as versões 49 e 52 da publicação). De forma crucial, o Livro de Orações lidava com a pão e o vinho na comunhão. Ao invés de tratar esses objetos como transubstanciados na carne e sangue de Jesus Cristo quando abençoados por um padre católico, o pregador protestante simplesmente encorajava os crentes a considerá-los como um lembrete do sacrifício de Cristo. Finalmente, em 1563 os Trinta e Nove Artigos (postos em vigor em 1571) tentaram definir o protestantismo inglês de forma definitiva, agora conhecido como Anglicanismo.

Uma Igreja Fragmentada

Tanto os radicais protestantes quanto os católicos se opuseram às características moderadas do Acordo, em especial os adeptos do calvinismo, que seguiam o reformista francês João Calvino. Este grupo de radicais era conhecido como Puritanos e, acreditando mais na importância da fé do que viver a "boa" vida para alcançar a salvação espiritual, eles prevaleceram a partir de meados da década de 1560. Alguns puritanos - especialmente os presbiterianos e separatistas - queriam abolir a hierarquia da Igreja e focar em uma interpretação mais literal da Bíblia. Com o tempo, iriam criar suas igrejas próprias, que consideravam independentes da autoridade real ou da Igreja Anglicana.

Enquanto muitas pessoas eram ou pró-católicas ou pró-protestantes, e alguns mantinham graus variados de visões radicais de cada lado do espectro, é provável que a maioria estivesse satisfeita com o meio termo moderado que o anglicanismo representava. Muitos fiéis, por exemplo, eram atraídos por elementos de ambos os lados, admirando a bela ornamentação de um crucifixo de ouro e, ainda assim, concordando com o uso do inglês nos serviços religiosos. Havia ainda um grau de tolerância e, como a própria rainha declarava, os pensamentos privados permaneciam privados e, portanto, ela "não abriria janelas para a alma dos homens" (Woodward, 171). Elizabeth removeu os bispos pró-católicos remanescentes, promovendo a renovação da cúpula da igreja e, de acordo com o Ato de Intercâmbio de 1559, confiscou suas propriedades (ou ameaçou fazê-lo caso não seguissem as normas).

Cerca de 400 padres renunciaram como consequência do Acordo Elizabetano. Mas também é verdade que muitos religiosos simplesmente continuaram como antes, em segredo ou esperando que seu comportamento não fosse notado pelas autoridades - que, em certos casos, eram simpáticas em nível local. Agora, porém, a Reforma era irreversível. A despeito das reações mais fortes, e considerando as mudanças e a violência testemunhada em outros países europeus que realizaram suas próprias reformas, a Inglaterra conseguiu ultrapassar um obstáculo difícil e potencialmente perigoso, estabelecendo com sucesso seu peculiar e duradouro tipo de protestantismo.

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Perguntas e respostas

Qual a importância da Reforma Inglesa

A Reforma Inglesa separou a Igreja da Inglaterra da Igreja Católica Romana e do Papa. A Igreja Protestante da Inglaterra foi criada e o monarca inglês tornou-se seu chefe supremo, e não mais o Papa.

Quais foram as três causas da Reforma Inglesa?

A principal causa para a Reforma Inglesa foi o desejo de Henrique VIII de se divorciar de sua esposa Catarina de Aragão, o que o Papa não permitiu. O rei também queria reformas na Igreja, que muitos consideravam corrupta, além de suas riquezas para a Coroa.

Como a Reforma Inglesa afetou a Inglaterra?

A Reforma teve efeitos significativos para a Inglaterra. O monarca tornou-se o Chefe da Igreja Protestante da Inglaterra, monastérios foram abolidos e sua riqueza confiscada e houve mudanças substanciais nas cerimônias religiosas, que passaram a ser feitas em inglês, e não mais em latim.

Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é um escritor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Os seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações partilham. Tem Mestrado em Filosofia Política e é o Diretor Editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2020, julho 13). Reforma Inglesa [English Reformation]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18916/reforma-inglesa/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Reforma Inglesa." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação julho 13, 2020. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18916/reforma-inglesa/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Reforma Inglesa." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 13 jul 2020. Web. 12 nov 2024.