Império Otomano

Definição

Syed Muhammad Khan
por , traduzido por Gustavo Lemes
publicado em 24 agosto 2020
Disponível noutras línguas: Inglês, Chinês, francês, espanhol, Turco
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Ottoman Infantry Coat of Arms (1882-1922 CE) (by Juris Tiltins, Public Domain)
Brasão de armas da infantaria otomana (1882-1922 d.C.)
Juris Tiltins (Public Domain)

O Sultanato Otomano (1299-1922, como império e 1922-1924, como califado), que também é chamado de Império Otomano, que em turco se escreve Osmanli Devleti, foi um estado imperial turco concebido e nomeado em homenagem a Osmã (v. 1258 - 1326), um chefe anatólio. No seu auge, nos séculos XVI e XVII, o império controlava um vasto território que incluía Anatólia, sudeste da Europa, Grécia continental, os Balcãs, parte do norte do Iraque, Azerbaijão, Síria, Palestina, partes da Península Arábica, Egito e parte da faixa norte da África, além das principais ilhas mediterrâneas de Rodes, Chipre e Creta. Reconhecido como a superpotência militar mais forte do seu tempo, o império estagnou e encarou um longo declínio do final do século XVI em diante até ser substituído pela moderna República da Turquia, após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Ascensão, Zênite & Queda do Império Otomano

No século XI, os turco seljúcidas, um povo das estepes asiáticas, que adotaram a versão sunita do Islã, varreram a Pérsia e os territórios vizinhos orientais e depois avançaram para o oeste, em direção à Anatólia. Lá, perto de Manzikert, em 1071, eles infligiram uma derrota devastadora às forças imperiais do Império Bizantino (330-1453) e assim, várias tribos turcas assentaram-se na região. Por volta do século XIII, vários beyliks (pequenos reinos) da Anatólia eram virtualmente independentes e rivalizavam entre si. Osmã (rein. 1299 - 1326), o bey (chefe) da Bitínia, uma região situada a oeste, próximo ao Mar de Mármara, iniciou uma guerra nas fronteiras do reino bizantino, expandindo seus domínios às custas deles e tomando a Prusa (Bursa), que caiu após a sua morte, em 1326.

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DEPOIS DE UMA GUERRA CIVIL, MEHMED I EMERGIU COMO UM GOVERNANTE INCONTESTÁVEL DO UNIFICADO REINO OTOMANO E FREQUENTEMENTE RECEBE O APELIDO DE SEGUNDO FUNDADOR DO IMPÉRIO.

Os sucessores de Osmã varreram as propriedades dos bizantinos na Anatólia e na Europa, inclusive, assumiram o controle dos Balcãs no final do século XIV. Os europeus lutaram fortemente contra os otomanos, mas falharam principalmente nas batalhas cruciais de Kosovo (1389) e Nicópolis (1396). Os turcos encontraram um adversário à altura que não veio do ocidente, mas sim do oriente, quando lutaram contra as forças rivais dos timúridas (por causa de um conflito territorial na Anatólia) liderada pelo turco-mongol Timur (também conhecido como Tarmelão, rein. 1370 - 1405) próximo de Ankara, em 1402. Os otomanos foram derrotados, e o sultão Bayezid I (rein. 1389 - 1402) foi capturado.

Contudo, as forças ocidentais falharam em explorar essa oportunidade ao máximo e, depois de uma guerra civil, conhecida também como Interregno Otomano (1402 - 1413), Mehmed I (rein. 1413 - 1421), filho de Bayezid, saiu vitorioso e emergiu como governante incontestável do unificado reino otomano e, por isso, frequentemente recebe o apelido de segundo fundador do império. Após ter restaurado as fronteiras do império, como eram antes da Batalha de Ancara, os otomanos apareceram diante das lendárias Muralhas Teodosianas de Constantinopla, o últimos bastião do Império Bizantino, em 1453, sob a liderança de Mehmed II, o Conquistador (rein. 1451 - 1481), um dos netos de Mehmed I.

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Mehmed II Conquers Constantinople
Mehmed II Conquista Constantinopla
Jean-Joseph Benjamin-Constant (Public Domain)

Após a queda de Constantinopla, que se tornou a nova capital do Império Otomano, Mehmed lançou várias campanhas militares, tanto no leste como no oeste. Sérvia, Grécia e Bósnia caíram sob o domínio do sultão e, no leste, Mehmed tomou Trebizonda (Trabzon), em 1461. Mehmed também recebeu a lealdade dos tártaros da Criméia (1441 - 1783) em 1475 e, conseguentemente, garantiu ao domínio da região do Mar Negro três séculos depois.

Os otomanos se voltaram para o leste sob a liderança de Selim I (rein. 1512 - 1520 neto de Mehmed, o Conquistador) que atacou a dinastia Safávida (xiita) do Irã e o Sultanato Mameluco do Egito (1250 - 1517). Ele infligiu uma derrota esmagadora ao primeiro, em 1514, mas não conseguiu uma conquista completa e o reino mameluco, por outro lado, foi totalmente engolido em 1517.

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Está última vitória deu aos otomanos acesso as cidades santas islâmicas de Meca, Medina e Jerusalém, permitindo que reinvidicassem o título de Califa do mundo islâmico. Os otomanos e os safávidas e os sucessivos impérios Persas continuaram a lutar intermitentemente pelos próximos três séculos e os territórios do Iraque e do Azerbaijão trocaram de mãos diversas vezes, até que as questões fossem finalmente resolvidas com o tratado de paz de 1847.

Solimão I (rein. 1520-1566), filho de Selim, é o governante mais célebre da era otomana e é chamado de Kanuni (legislador) no leste e de Magnífico no oeste. Ele conquistou Belgrado em 1521, tomou a ilha de Rodes em 1523 e garantiu a maior e mais impactante vitória contra a Hungria na Batalha de Mohács, em 1526 (que desestabilizou a região por anos, garantido o domínio dos turcos sobre ela, competindo com a Áustria ao fazê-lo). Na África, Algiers aceitou a suserania de Selim, em 1517, e Túnis passou a fazer parte do domínio otomano, sob Solimão, em 1534.

Suleiman the Magnificent
Solimão, o Magnífico
Kunsthistorisches Museum (Public Domain)

Solimão, o Magnífico morreu em campanha na Hungria, em 1566, deixando o império nas mãos do seu único filho vivo, Selim II (rein. 1566 - 1574) e alguns historiadores afirmam que esse foi o início do declínio otomano. As décadas seguintes não foram desprovidas de conquistas, mas a autoridade militar e naval começaram a definhar. As conquistas do Iêmen (1567 - 1570), Chipre (1570), Túnis (1574), Fez em Marrocos (1578), Creta (1669) e Podólia, atualmente Ucrânia (1672) foram as últimas grandes adições ao reino Otomano. Em 1683, o exército Otomano teve uma derrota devastadora nas muralhas de Viena e, consequentemente, perdeu seu prestígio militar. Em 1699, o Império Otomano foi forçado a pedir paz devido a uma invasão coletiva. O tratado de Karlowitz (1699) forçou os turcos a cederem vastas faixas do território Europeu para a Áustria, Polônia, Rússia e Veneza.

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Essa perda territorial foi somente um prelúdio do que estava por vir no próximo século. Os tártaros da Criméia foram derrotados pelos russos em 1783, acabando com a hegemônia do império na região oriental do Mar Negro. A Revolução Grega (1821 - 1829) estabeleceu a independência grega e seu exemplo foi seguido pela Bulgária, Sérvia, Montenegro e Romênia, que se separaram do império no final do século XIX. O Egito se livrou do controle direto otomano no início da década de 1830 e foi perdido para sempre para o Império Britânico cinco décadas depois, na década de 1880. A França apoderou-se da Argélia em 1830 e de Túnis em 1881, e a Líbia, o último território otomano na África, caiu nas mãos da Itália em 1911.

The Greatest Extent of the Ottoman Empire in Europe (1683 CE)
A maior extensão do Império Otomano na Europa (1683 d.C.)
Chamboz (CC BY-SA)

O último governante otomano autônomo que contribuiu significativamente para o império foi o sultão Abdul Hamide II (rein. 1876 - 1909), que tomou o cetro durante a Primeira Era Constitucional do Império Otomano (1876 - 1878), uma era de monarquia constitucional), à qual ele pôs fim em somente dois anos, reafirmando o controle monárquico absoluto. Hamide fez serias tentativas de modernizacão (principalmente na área da educação) e introduziu vários avanços tecnológicos, como a construção de extensos sistemas ferroviários, mas permance controverso devido ao seu envolvimento no massacre da população armênia (1894 - 1896, também conhecido como massacres Hamidianos), que são frequentemente visto como um prelúdio do genocídio armênio que aconteceu depois (1914 - 1923).

Abdul Hamide foi deposto em 1909 pelo partido Jovens Turcos, uma entidade política nacionalista e secular que restaurou a monarquia constitucional no império, também conhecida como a Segunda Era Constitucional do Império Otomano (1908 - 1920). No entanto, a partir desse momento, os sultões se tornaram meros figurantes e o império seguiu um caminho que o levou à destruição. O último prego foi cravado no caixão do império quando ele se envolveu na Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) ao lado das Potências Centrais (Império Austro-Húngaro e Alemanha). O sultanato foi destruído pela guerra e deixou de existir oficialmente em 1922.

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No rescaldo da guerra, o exército grego invadiu a Anatólia, tomando Esmirna (Izmir) e avançou para o interior. A força invasora grega foi repelida pelos guerreiros da liberdade turca, liderados por um líder nacionalista turco e fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal (rein 1923 - 1938) que mais tarde foi denominada Guerra da Independência Turca (rein. 1919 - 1923). O último líder otomano, Abdul Mejide II (rein. 1922 - 1924) serviu somente como califa do Islã (simbolicamente) por dois anos, até que o posto foi oficialmente abolido por Kemal.

Governo Otomano

DESDE A ÉPOCA DE MURADE I, O LÍDER DO ESTADO OTOMANO ERA CHAMADO DE SULTÃO, FREQUENTEMENTE VISTO COMO UM REI GUERREIRO DE INSPIRAÇÃO RELIGIOSA.

Desde a época de Murade I (rein. 1362 - 1389), o líder do estado Otomano era chamado de sultão, frequentemente visto como um rei guerreiro de inspiração religiosa. O título de sultão foi usado por vários monarcas do mundo islâmico durante a era medieval e, em muitos casos, ainda mais legitimado pelas bençãos do líder espiritual da comunidade muçulmana, o califa (Khalifa, em árabe). O sultão, em teoria um subordinado do califa, era praticamente independente e muitas vezes mais autoritário.

As ações e decisões do sultão eram consideradas finais, embora houvesse um corpo consultivo de vizires (ministros, também conhecidos como paşa ou pasha) para assessorar e, às vezes, substituir o sultão em assuntos políticos. Esses ministros e vários outros burocratas de alto escalão eram selecionados entre oficiais promissores da elite do corpo militar Janizários, recrutados no território conquistado dos Balcãs. O grão-vizir (primeiro-ministro) era diretamente subordinado ao sultão e, em muitos casos, revelou-se fundamental na afirmação da autoridade deste último, como exemplificado pelos membros da família Köprülü, que serviram ao cargo sucessivamente de 1656 a 1703.

Selim III Receiving Dignitaries
Selim III Recebendo Dignitários
Konstantin Kapidagli (Public Domain)

Embora não houvesse contestação ao governo do sultão no reino, os otomanos permitiam que governantes locais tivessem autonomia em troca de fidelidade e, em muitos casos, essas regiões mantiveram seus sistemas de governança, como nos Balcãs. A estrutura administrativa dos Otomanos podem ser perfeitamente resumida na citação abaixo:

Paradoxalmente, no início, o estado otomano era militantemente islâmico e fortemente efluenciado pela cultura grega, herdeiro dos Saljuqs (seljúcidas), mas também com práticas e estruturas derivadas do Império Romano-Bizantino que ele substituiu. Abrangendo os Balcãs cristãos e a região ocidental dos Dar al-Islã, era uma ponte entre civilizações rivais. (Ruthven, 86)

A maior falha na estrutura da soberania otomana era a sucessão, eles seguiam algo parecido com o princípio darwiniano: somente o príncipe mais capaz poderia assumir o trono. Esperava-se que os príncipes, conhecidos como Şehzade, servissem como governantes de várias regiões sob a suserania de seus pais para ganhar experiência militar e administrativa, no entanto, esta prática foi abandonada mais tarde, pois criava competições entre os pretendentes e, consequentemente, convidava ao fratricídio.

Na época de Selim II (rein. 1566 - 1574), à medida que os sultões se entregavam aos prazeres do harém e se distanciavam da administração do reino, corrupção, intolerância e nepotismo, começaram a assolar a estrutura. Potenciais sucessores ficaram inaptos, sem qualquer experiência prática, permitindo que outros cargos (ministros, janízaros ou rainhas) assumissem controle sobre o sultão, que se tornou um peão nas intrigas do palácio. Durante um breve período no século XVII, as rainhas-mães (Valide Sultan) começaram a ter controle direto sobre os soberanos menores, como exemplificado pelo governo da Sultana Kosem (rein. 1623 - 1632 & rein. 1648 - 1651) depois da morte de seu marido, o sultão Ahmed I (rein. 1603 - 1617).

Topkapi Palace Model
Modelo do Palácio de Topkapi
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Os últimos sultões tentaram fortemente solidificar o império, e o sultão Abdul Mejide I (rein. 1839 - 1861) introduziu uma lista de reformas importantes conhecidas como Tanzimat (1839 - 1876, originalmente concebida por seu pai, Mamude II). Essas reformas criaram vários direitos como a igualdade e tolerância religiosa para todos, enquanto também reformulava a estrutura financeira do império, promovia o nacionalismo otomano em contraste com as divisões étnicas, limitava os papéis das facções indisciplinadas e minava a autoridade de todos os conspiradores contra o estado.

No entando, nacionalista seculares não ficaram satisfeitos com as reforma Tanzimat e desejaram criar um governo mais próximo do estilo europeu. Deles emergiram a Primeira Era Constitucional do Império Oromano (1876 - 1878) que durou somente por dois anos, durante o reino de Abdul Hamide. Não havia um sistema partidário, mas os membros eleitos do parlamento otomano eram considerados como representantes do povo e tinham certo controle sobre o sultão até que ele colocou um fim nessa era.

Hamide, que era contrário às reformas liberais, foi deposto em 1909 e, consequentemente, começou a Segunda Era Constitucional do Império Otomano. Desta vez, os sultões se assumiram posições figurativas e foram substituídos pelos paxás (ministros), que tomaram o poder do reino, com destaque para o trio que serviu durante a Primeira Guerra Mundial, Mehmed Talat Paxá, Enver Paxá e Ahmed Cemal Paxá do partido Jovens Turcos, também conhecidos como "Três Paxás" (que foram considerados os responsáveis pela genocídio armênio de 1914 - 1923).

Religião

O Islã continuou a ser um fator definidor do império e era esperado que o sultão protegesse os praticantes dessa fé e o próprio Islã, assim, comentários blasfemos não eram tolerados. No entanto, como o historiador Stephen Turnbull comenta,

... os cristão sob o domínio muçulmano parecem ter desfrutados de uma maior tolerância do que a demonstrada aos ortodoxos sob a dominação latina, então, a resistência não foi sempre tão feroz quanto se poderia supor. Igrejas podiam ser transformadas em mesquitas, enquanto as que continuavam nas mãos dos cristãos tinham certas restrições, como a proibição de tocar sinos e fazer procissões públicas, mas a situação poderia ser muito pior. O mundo ortodoxo tinha uma memória trágica da Quarta Cruzada (1204 d.C) para lembrá-los de quão bem estavam sob o domínio Otomano, em comparação com uma conquista ocidental. Melhor o turbante do sultão do que a mitra do bispo, escreveu o estudioso bizantino. (75-76).

Um exemplo da inclusão e aceitação religiosa pode ser estabelecido desde a época de Bajazeto II (rein. 1481 - 1512) que acolheu os judeus espanhóis em 1492, em total contraste com os maus-tratos dados aos judeus espalhados por toda a Europa medieval. Mehmed, o Conquistador, chegou a escrever uma declaração oferecendo aos clérigos cristãos proteção total e independência religiosa.

Contudo, exemplos de extremismo e violência de base religiosa, étnica e nacionalista abundam nos anais da história turca, como a violenta carnificina dos prisioneiros da guerra iniciada por Bajazeto I (rein. 1389 - 1402) depois da Batalha de Nicopolis (1396), a pilhagem das cidades conquistadas, os maus-tratos e genocídio dos armênios do final do século XIX ao início do século XX.

Exército otomano

O fundador do império, Osmã, autodenominou-se como um ghazi, que significava guerreiro sagrado, e liderou forças majoritariamente compostas também por esses guerreiros sagrados, travando uma ġazā, um tipo de guerra santa, contra os bizantinos. Conforme o reino otomano se expandia, novas corporações militares foram incorporadas ao crescente exército turco. A cavalaria invasora, chamada de akincis (akin - incursão) eram frequentemente empregadas para explorar e lançar ataques preventivos no território inimigo antes do exército principal chegar. Os sipahis eram a unidade de elite da cavalaria otomana, com boas armaduras e equipados com lanças e seus pagamentos eram em terras ao invés de salários.

Ottoman Sipahi Cavalry
Cavalaria Otomana Sipahi
Józef Brandt (Public Domain)

A infantaria leve era composta por soldados irregulares azap(s) (que significa solteiros) que eram equipados com armas para combate corpo a corpo e de longa distância. No entanto, as unidades de infantaria (pesada) otomana mais icônicas eram recrutadas via o sistema de devşirme (que significa imposto infantil), criado pelo sultão Murade I, no qual as crianças dos balcãs eram recrutadas, convertidas ao islã e treinadas como soldados de elite janízaros (em turco: yeñiçeri, que significa novo soldado), alguns dos quais serviriam como ministros e líderes burocratas do reino.

Os janízaros serviam nas unidades de infantaria e cavalaria, embora eles fossem mais famosos pela primeira atividade. Sua resiliência e habilidades deram a eles a admiração e pavor das potências europeias. Por exemplo, eles foram largamente responsáveis pela vitória otomana contra a coalizão cruzada dos europeus em Varna (1444). Os janízaros eram inovadores, eles vestiam uniformes oficiais e eram equipados com armas de fogo, como arcabuzes, que frequentemente os ajudavam a mudar o rumo da batalha.

OS OTOMANOS ERAM FAMOSOS PELA INCORPORAÇÃO DE ARMAS DE PÓLVORA, INCLUINDO CANHÕES LEVES & PESADOS.

Os otomanos eram famosos pela incorporação de armas de pólvora, incluindo canhões leves e pesados, este último sendo exemplificado pelos enormes Canhão de Dardanelos (Şahi topu), um protótipo implementado diante das muralhas Constantinopla em 1453. (O exército otomano também foi pioneiro no uso de bandas militares oficiais, conhecida como mehterân, que tocavam músicas de guerra (e vários hinos imperiais) e muitas dessas canções são famosas até hoje.

Esta estrutura militar, embora bem sucedida no início, foi gradualmente desgastando-se à medida que não houveram iniciativas para modernizar ou reformar as forças. Os janízaros ascenderam ao poder, às custas do sultão, alienando outras ordens militares, que levaram ao banditismo, tal como as revoltas Celali (1590 - 1610, homenagem a um antigo rebelde xiita, embora não relacionado), que assolou todo o império e levou décadas para ser completamente subjugado. Enquanto isso, forças inimigas começaram a ganhar vantagem militar. Selim III (rein. 1789 - 1807) introduziu o Nizam-i-Cedid (Nova Ordem), uma reforma no sistema militar, que poderia substituir os obsoletos janízaros. Esta medida encontrou forte resistência dos janízaros, que forçaram o sultão abandonar seus esforços e, por fim, tiraram sua vida.

Nizam-e-Cedid Troops
Tropas Nizam-e-Cedid
Zapotocny (CC BY-SA)

Mamude II (rein. 1808 - 1839) percebeu que a sobrevivência do fragmentado império poderia somente ser preservado com um novo exército e, a partir de então, seguiu o exemplo de Selim. Ele treinou as tropas modernas que juraram absoluta lealdade à casa de Osmã e, em troca, esses soldados destruíram os janízaros quando eles se rebelaram, reafirmando a autoridade do sultão em 1826. Eles foram apelidados de Asakir-i Mansure-i Muhammediye (Os Soldados Vitoriosos de Maomé), ou pela abreviação Exército Mansure (Exército Vitorioso).

Os otomanos também eram famosos por valorizar talentos, mesmo entre seus inimigos. Por exemplo, eles recrutavam corsários e piratas que atacavam seus navios, em meio a suas fileiras, transformando inimigos em amigos. Os dois exemplos mais notáveis são o de Hayreddin Barbarossa (1478 - 1546) o vitorioso da batalha naval de Preveza (1538) e de Yusuf Raïs (1553 - 1622), originalmente chamado de Jack Birdy e, possivelmente, foi a inspiração para o Capitão Jack Sparrow, personagem da séries Piratas do Caribe. A marinha otomana que foi encomendada em escala titânica por Solimão, o Magnífico, dominou o Mediterrâneo e rivalizou com outras forças navais europeias, principalmente Veneza, até sua derrota na batalha de Lepanto (1571). Os vestígios da força da marinha otomana diminuíram do século XVII em diante devido a fricção com a modernização e à falta de fundos para apoiar uma frota maior e mais forte.

Economia & Comércio

A queda de Constantinopla em 1453 não foi somente o início do avanço das ambições do império Otomano, mas também garantiu a dominação comercial da área para os turcos. Como os tártaros da Criméia juraram fidelidade ao sultão, Mehmed II também assegurou a hegemonia na área do Mar Negro. Com os dardanelos sob seu controle, os turcos fecharam a histórica Rota da Seda para seus inimigos ocidentais. Os direitos de comércio exclusivo com a Índia Mogol (rein. 1526 - 1857, intermitentemente), uma superpotência regional no oceano Índico, trouxeram grandes receitas para ambos os impérios, e os comerciantes europeus que utilizavam as rotas controladas pelos otomanos tinham que pagar impostos para o império.

A hegemonia otomana no Mediterrâneo e no Oceano Índico, e o seu controle sob os Dardanelos, forçaram as potências europeias rivais a procurarem novas rotas de comércio na direção do oeste, na direção do Novo Mundo. No entanto, os turcos logo perderam essa vantagem no leste, como explicou o historiador Mehrdad Kia:

O declínio econômico e financeiro do império foi agravado pelo significativo desvio do comércio das tradicionais rotas terrestres para novas rotas marítimas. Historicamente, a vasta região que se estende da Ásia Central até o Oriente Médio serviu como ponte terrestre entre a China e a Europa. Os impostos e taxas alfandegárias coletadas pelo governo otomano constituíram um componente importante da receita gerada pelo estado. O contorno português do Cabo da Boa Esperança e o subsequente estabelecimento de uma rota marítima direta para o Irã, Índia e mais além, permitiram que os estados e comerciantes europeus evitassem o território controlado pelos otomanos...(12)

Arte & Arquitetura da Era Otomana

As obras de arte arquitetônicas dos otomanos tem impressionado e hipnotizado os visitantes por séculos. A arquitetura otomano baseia-se fortemente nos estilos persa, bizantino e árabe, uma mistura única, perfeitamente incorporada nos projetos das masjids ou mesquitas, das quais várias foram encomendadas pelos sultões porque elas eram centrais para a fé islâmica. Madrassas (escolas religiosas), cozinhas comunitárias, hospitais, universidades, túmulos dos sultões são outros exemplos perfeitos da habilidade arquitetônica turca.

The Suleymaniye Mosque, Istanbul
A Mesquita Suleymaniye, Istambul
Mark Cartwright (CC BY-NC-SA)

Mimar Sinan (1488/14900-1588) um proeminente arquiteto otomano, que serviu sob Solimão, o Magnífico e junto com seus dois sucessores, rivalizaram com a excelência de Michelangelo (1475 - 1564). Sinan foi responsável pelos projetos de obras-primas como a Mesquita Süleymaniye (inaugurada em 1557) e a Mesquita Selimiye (inaugurada em 1575). Um dos seus discípulos foi responsável pela icônica Mesquita do Sultão Ahmed ou Mesquita Azul (completada em 1616).

Palácios otomanos como Topkapi (que significa Portão do Canhão) que serviu como residência e sede imperial entre os séculos XV e XVI, e a Dolmabahçe (que significa Jardim Preenchido), que substituiu o anterior em meados do século XIX, também são exemplos da significativa excelência arquitetônica da era, embora esta última se tornou um exemplo da grandeza tóxica que deteriorou a economia do império.

A arte da era otomana adorna as páginas de vários manuscritos encomendados pelos sultões. O estilo, assim como a arquitetura, foi adotado pelas culturas vizinhas. Várias miniaturas, obras-primas caligaligráficas islâmicas, tapetes decorativos, azulejos e retratos da era oferecem uma visão dos valores culturais e históricos da nação. O nome do sultão também era escrito de maneira estilizada, conhecida como tughra que era usado para assinar documentos imperiais. Poesia e música também eram patrocinadas pelos governantes otomanos, muitos dos quais eram excelentes compositores. Solimão, o Magnífico frequentemente escrevia versos românticos para a sua esposa Sultana Hurem (c 1502 - 1558) sob o pseudônimo de Muhibbi (que significa, amante).

Do século XIX em diante, o estilo de música europeu foi incutida também na corte, como exemplificado pelo hino oficial imperial otomano, composto sob patrocínio do Sultão Abdul Mejide I (rein. 1839 - 1861). Essas formas de arte e arquitetura permitem aos observadores modernos entenderem melhor as coisas que povo turco mantinha próximo de seus corações e, embora as influência europeias possam ser percebidas em incremento ao longo dos séculos, é possível distinguir os elementos que tornaram os turcos otomanos únicos.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Gustavo Lemes
Gustavo Lemes, formado em história, com especialização em história da arte e tradução. Seu principais interesses são sobre Idade Média e o Renascimento. Reside em São Paulo, Brasil.

Sobre o autor

Syed Muhammad Khan
Muhammad é biólogo, entusiasta de história e escritor freelancer. Ele tem contribuído ativamente à seção de história islâmica da Enciclopédia desde 2019.

Citar este trabalho

Estilo APA

Khan, S. M. (2020, agosto 24). Império Otomano [Ottoman Empire]. (G. Lemes, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18700/imperio-otomano/

Estilo Chicago

Khan, Syed Muhammad. "Império Otomano." Traduzido por Gustavo Lemes. World History Encyclopedia. Última modificação agosto 24, 2020. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18700/imperio-otomano/.

Estilo MLA

Khan, Syed Muhammad. "Império Otomano." Traduzido por Gustavo Lemes. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 24 ago 2020. Web. 02 out 2024.