Montezuma

Definição

Mark Cartwright
por , traduzido por Ricardo Albuquerque
publicado em 10 outubro 2013
Disponível noutras línguas: Inglês, francês, espanhol
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Headdress of Motecuhzoma II (by Jonathan, Copyright)
Adorno de Cabeça de Motecuhzoma II
Jonathan (Copyright)

Montezuma (ou Moctezuma), ou, mais corretamente, Motecuhzoma II Xocoyotzin, que pode ser traduzido como "Aquele que se enfurece como um Senhor", foi o último inteiramente independente governante do Império asteca antes do colapso diante da Conquista Espanhola, no início do século XVI. Assumindo a posição de tlatoani, significando "aquele que fala" em 1502, ele governou como um monarca absoluto até 1520.

Durante seu reinado, Motecuhzoma expandiu o império asteca e era considerado um deus por seu povo, literalmente uma manifestação e perpetuador do Sol. Ele viveu num célebre e imenso palácio, que ostentava jardins suspensos e até mesmo um zoológico, na capital asteca de Tenochtitlán

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Um Monarca Absoluto

Motecuhzoma era o filho do grande líder Azayacatl (r. 1469-1481) e se destacou como guerreiro sob o comando de seu tio Ahuitzotl (r. 1486-1502). Ele se distinguiu especialmente nas campanhas astecas em Tehuantepec e Xoconochco. Com a morte de Ahuitzotl, Motecuhzoma assumiu a mais alta posição na sociedade asteca e se tornou, após uma suntuosa cerimônia de coroação, o indisputado líder religioso e político ou tlatoani em 1502.

Temos a sorte de dispor de uma descrição física em primeira mão de Motecuhzoma por Bernal Diáz del Castillo, que o viu em 1519:

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[Ele tinha] cerca de 40 anos de idade, de boa altura e bem proporcionado, esbelto e forte, não muito moreno, mas da cor e tom de pele de um índio. Seu cabelo não era longo, mas o suficiente para cobrir as orelhas, e a barba negra e rala estava bem feita e fina. Seu rosto era algo longo, mas animado, e tinha olhos agradáveis, mostrando em sua aparência e maneiras uma certa ternura e, quando necessário, seriedade. (Townsend, 19)

Como parte das cerimônias para confirmá-lo em seu novo status, Motecuhzoma liderou um exército no que se tornou conhecida como a Guerra de Coroação, para Nopallan, 640 km ao sul. Ao conquistar a cidade fortificada ele trouxe a Tenochtitlán despojos consideráveis, além de um contingente de cativos para o sacrifício ritual. O novo tlatoani também comemorou a inauguração de uma pedra especialmente encomendada (conhecida atualmente como a Pedra de Coroação de Motecuhzoma II), que estava coberta de inscrições retratando as cinco eras da mitologia asteca.

Aztec Empire Map
Mapa do Império Asteca
Simeon Netchev (CC BY-NC-ND)

Ele ampliou os poderes da posição de tlatoani, ao mesmo tempo em que reduzia os deveres do chefe de assuntos internos Tlacaellel ou Cihuacoatl, tornando-se, para todos os efeitos, um monarca absoluto e líder indisputado da Tríplice Aliança que reunia as três grandes cidades de Tecnochtitlán, Tetzcoco e Tlacopan. O imperador também elevou o status da nobreza, diferenciando-a do restante da sociedade através de uma ênfase cada vez maior em títulos, vestimentas específicas, insígnias e normas de etiqueta na corte.

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Motecuhzoma comandava um império que se estendia dos limites setentrionais do México até a atual Guatemala.

Ele comandava um império que se estendia dos limites setentrionais do México até a atual Guatemala. De fato, ele o expandiu e promoveu quatro grandes guerras, ao fim das quais somente os Tarascanos no leste e os Tlaxcaltecas no oeste permaneciam independentes. Os estados submetidos pagavam tributos, conforme indicado nos registros astecas. Este tributo podia ser pago em materiais preciosos, como ouro e jade; penas exóticas; e mesmo águias ou jaguares. Outras opções eram roupas, tecidos e alimentos, tais como milho e cacau.

Uma Vida Luxuosa

Motecuhzoma certamente vivia como um rei. Seu enorme palácio na capital asteca de Tenochtitlán possuía jardins suspensos, um aviário com dez salas que incluíam piscinas com água fresca e salgada e um zoológico privado com jaguares, águias, pumas, raposas e cobras, entre outras centenas de animais exóticos. Ele era servido por cerca de 3.000 funcionários e, de acordo com Bernal Diáz, uma refeição real típica incluía centenas de pratos especialmente feitos, com opções de peru, veado, pato, pombo, coelho, codorna, peixe e javali, trazidos na finamente decorada e especialmente delicada cerâmica de Cholula. Os relatos dizem que o rei comia sozinho e atrás de um biombo, entretido por malabaristas e acrobatas.

Outros fragmentos de informação sobre o malfadado rei dão conta do fato de que ele visitava a grande cidade de Teotihuacan em várias ocasiões, uma peregrinação que incluía a travessia do Lago Texcoco de canoa. Também tinha fascinação por anões, corcundas e albinos, mantidos em câmaras especiais dentro do palácio real. O rei calçava sandálias douradas e amava caçar pássaros usando uma zarabatana. Por fim, também se interessava em artes, astrologia e filosofia.

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O Começo do Fim

Mesmo antes da chegada dos espanhóis, nem tudo estava bem no império asteca, que se não se baseava no poderio militar, mas sim através de laços frouxos com estados subjugados, comandados por governantes submissos, que coletavam os tributos e impunham o culto ao deus asteca Huitzilopochtli. Os astecas, porém, talvez tenham se expandido demais e várias outras tribos começaram a se rebelar, especialmente após a desastrosa derrota de 1515 para as tribos de Tlaxcala e Huexotzingo. As insurreições contra a dominação asteca foram esmagadas, mas problemas sempre apareciam e, talvez de forma mais significativa, o duro tratamento dado aos Tlaxcaltecas iria fazer com que eles se tornassem aliados incondicionais dos espanhóis.

Motecuhzoma parece ter tido um instinto de que tempos difíceis estavam à frente, já que dava grande importância a presságios, tais como um cometa avistado em 1509, e constantemente buscava o conselho de adivinhos. De acordo com a mitologia asteca, a presente Era do quinto sol iria eventualmente entrar em colapso, assim como as quatro Eras anteriores. Por volta de 1515, os rumores de uma crise que se aproximava rapidamente foram alimentados pelo avistamento na costa de fantásticos templos flutuantes; os visitantes do Velho Mundo tinham finalmente chegado.

Throne of Motecuhzoma II
Trono de Motecuhzoma II
Wolfgang Sauber (CC BY-SA)

A primeira estratégia dos líderes astecas foi comprar a boa vontade dos estranhos visitantes de outro mundo com presentes. As ofertas incluíam vestimentas cerimoniais, um enorme disco de ouro representando o Sol e um ainda maior, de prata, representando a Lua. Entretanto, se houve algum resultado, foi o de encorajar ainda mais os espanhóis na pilhagem das novas terras.

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Em Agosto de 1519, o líder dos conquistadores espanhóis, Hernán Cortés (ou Cortez), marchou para Tenochtitlán. De acordo com as fontes espanholas, o imperador asteca permitiu a entrada deles na cidade. Deste ponto em diante a história do conflito é alvo de muito debate entre os eruditos e é improvável que os cronistas espanhóis tenham apresentado um relato completamente imparcial dos eventos. Por exemplo, parece estranho que um governante tão poderoso quanto Motecuhzoma tenha se mostrado uma figura tão passiva nos registros dos acontecimentos que se sucederam. Entretanto, por certo também é verdade que os espanhóis tinham mostrado sua perícia militar e o efeito devastador de seu armamento mais sofisticado - canhões, armas de fogo e bestas - ao derrotar com rapidez um exército de guerreiros Otomis e Tlaxcaltecas, além de represálias imediatas e implacáveis contra um plano traiçoeiro dos Cholulas. Talvez Motecuhzoma tenha percebido tudo isso e adotado uma política mais prudente de apaziguamento, ao invés de enfrentar diretamente o inimigo no campo de batalha, pelo menos como uma estratégia inicial.

Quando Cortés e Motecuhzoma finalmente se encontraram frente a frente, as relações foram inicialmente amigáveis. Os astecas mostraram a cidade aos visitantes e presentes foram trocados: Cortés recebeu um colar de caranguejos dourados e Motecuhzoma um colar de vidros venezianos presos a um fio de ouro. O que quer que seja que o imperador tenha esperado alcançar através da diplomacia foi arruinado em apenas duas semanas, ao ser prontamente tomado como refém e colocado em prisão domiciliar pela pequena guarnição espanhola. O soberano asteca foi forçado a declarar-se um súdito de Carlos V, entregar mais tesouros e inclusive permitir a colocação de um crucifixo no topo da Grande Pirâmide, no distrito sagrado da cidade.

Montezuma Meets Cortés
Motecuhzoma II encontra Cortés
Unknown Artist (Public Domain)

Houve um contratempo nos planos de Cortés, entretanto, quando ele foi forçado a retornar à sua base em Veracruz para enfrentar uma facção espanhola rival. Em sua ausência, os espanhóis remanescentes imprudentemente interromperam uma cerimônia religiosa que envolvia sacrifício humano e o conflito se estabeleceu. Os guerreiros astecas, ressentidos pela falta de ação decisiva, depuseram Motecuhzoma como seu líder e Cuitlahuac foi eleito como o novo tlatoani. Motecuhzoma foi pressionado pelos espanhóis a pacificar seu povo, mas acabou atingido por uma pedra e morreu.

Cortés retornou à cidade para libertar os espanhóis sitiados, mas foi forçado a recuar em 30 de Junho de 1520, no que se tornou conhecido como a Noche Triste (Noite Triste). Porém, ele voltou nove meses depois, desta vez com seus aliados Tlaxcaltecas e, após um demorado cerco, a cidade finalmente caiu. Os astecas, liderados por Cuauhtemoc e devastados pela falta de alimentos e doenças, por fim se renderam no dia fatídico de 13 de Agosto de 1521. Tenochtitlán foi saqueada de seus objetos preciosos e os monumentos acabaram destruídos. Das cinzas se ergueu a nova capital da colônia da Nova Espanha e a longa sequência de civilizações mesoamericanas, que se estendia desde os Olmecas, chegou a um fim dramático e brutal.

Throne of Motecuhzoma, Detail
Detalhe do Trono de Motecuhzoma II
Mary Ann Sullivan (CC BY-NC-SA)

Motecuhzoma na Arte

Motecuhzoma é retratado na Histories of the Indies (História das Índias) pelo frade dominicano Diego Durán, posando sentado enquanto uma estátua é esculpida. Sabemos de uma estátua em particular, na qual 14 escultores trabalharam em Chapultepec. O monarca asteca também aparece no trono de pedra conhecido como a Pedra Tecocalli, onde aparece oposto a Huitzilopochtli. Também atribuído a Motecuhzoma, embora não haja evidência concreta a respeito, é o magnífico cocar de penas exibido no Museum für Völkerkunde (Museu de Etnologia) de Viena. O cocar foi provavelmente parte da coleção de artefatos dados pelo imperador a Cortés, que repassou os presentes a Carlos V. Produzido com com 450 penas verdes de quetzal, azuis de cotinga e rosas de flamingo, o cocar é embelezado com contas de ouro e discos de jade.

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Bibliografia

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Sobre o tradutor

Ricardo Albuquerque
Jornalista brasileiro que vive no Rio de Janeiro. Seus principais interesses são a República Romana e os povos da Mesoamérica, entre outros temas.

Sobre o autor

Mark Cartwright
Mark é autor em tempo integral, pesquisador, historiador e editor. Seus principais interesses incluem arte, arquitetura e descobrir as ideias que todas as civilizações compartilham. Ele possui mestrado em Filosofia Política e é diretor editorial da WHE.

Citar este trabalho

Estilo APA

Cartwright, M. (2013, outubro 10). Montezuma [Montezuma]. (R. Albuquerque, Tradutor). World History Encyclopedia. Obtido de https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12260/montezuma/

Estilo Chicago

Cartwright, Mark. "Montezuma." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. Última modificação outubro 10, 2013. https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-12260/montezuma/.

Estilo MLA

Cartwright, Mark. "Montezuma." Traduzido por Ricardo Albuquerque. World History Encyclopedia. World History Encyclopedia, 10 out 2013. Web. 04 out 2024.